sábado, 21 de dezembro de 2019

O Natal e o Futuro Governante — Mq 5.1-9

     Ah, o Natal! Esta é, sem dúvidas, a melhor época do ano! As pessoas parecem ficar mais alegres e sorridentes. Talvez seja porque grande parte está de férias ou perto disso. As confraternizações começam a acontecer. O clima de fim de ano é sensacional! Contudo, talvez a grande maioria das pessoas, inclusive dos cristãos, deixa passar batido o verdadeiro significado do Natal.
     E não, não estou aqui falando apenas de que “Natal não é papai noel e sim Cristo que veio entregar a vida por você”. Este é o nível básico, a base, uma verdade que muitos parecem ter acolhido, lembrado e adotado para suas vidas, pois vemos autos e cantatas de natal, e coisas mais. Contudo, devemos ir além. A promessa do governante de Israel dada por Deus e entregue a nós por meio do profeta Miqueias e de outros profetas possui grandes implicações para nós ainda hoje — mais do que repetir jargões que, embora sejam verdadeiros, não levam ninguém a pensar e repensar seus modos de vida.

     Veja este trecho do livro de Miqueias, capítulo 5, versículos 1 a 9.
     "Agora, reúne tuas tropas, ó filha de tropas, pois há um cerco contra nós; com uma vara ferirão o governante de Israel na face." Mas tu, Belém Efrata, embora sejas pequena entre os milhares de Judá, sairá de ti para mim aquele que reinará sobre Israel, cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade. "Portanto, tu os entregarás até que a parturiente dê à luz; então o restante de seus irmãos voltará aos israelitas. Ele permanecerá e cuidará do povo, na força do SENHOR, na majestade do nome do SENHOR, seu Deus; e eles permanecerão, porque agora ele será grande até os fins da terra." Ele será a nossa paz. Quando a Assíria invadir nossa terra e atacar nossos palácios, levantaremos contra ela sete pastores e oito comandantes. Eles destruirão a terra da Assíria pela espada, e a terra de Ninrode dentro de suas portas. Assim ele nos livrará da Assíria, quando esta invadir nossa terra e entrar em nosso território. O remanescente de Jacó estará entre muitos povos, como orvalho da parte do SENHOR, como chuvisco sobre a relva, que não espera pelo homem, nem aguarda filhos de homens. O remanescente de Jacó também estará entre as nações, no meio de muitos povos, como um leão entre os animais do bosque, como um leão forte entre os rebanhos de ovelhas, o qual as pisará e despedaçará quando passar, sem que ninguém as livre. A tua mão será exaltada sobre teus adversários, e todos os teus inimigos serão exterminados.
— Miqueias 5.1-9, Bíblia Almeida Século 21 (Edições Vida Nova)

     Miqueias foi um profeta contemporâneo do profeta Isaías e profetizou durante os reinados de Jotão, Acaz e Ezequias, entre os anos 742 e 686 a.C. A nação de Israel, o povo escolhido de Deus, estava imerso em pecados absurdos, o que, como foi avisado na Lei, traria como consequência o castigo.
     A mensagem do livro vai desde o anúncio do juízo de Deus sobre Israel até a esperança de redenção que este povo deveria possuir. No livro do profeta Miqueias, aprendemos que, mesmo em um mundo maculado e destroçado pelo pecado, o propósito e o triunfo de Deus sobre o mal estão garantidos. Não há possibilidade alguma de falhar. Miqueias nos mostra a promessa de algo muito maior, algo que os hebreus sequer conseguiam conceber. Vamos ao texto.

1. A Preparação para o Rei (5.1-3)
     No v.1, há um aviso para que Israel prepare as suas tropas. O cerco de Senaqueribe, o qual viria a acontecer em 701 a.C., estava sendo preparado contra Israel. Ele capturou cidades fortificadas. Foi um dos ataques mais devastadores para Judá. Jerusalém escapou por milagre, como está relatado em Jr 26.18,19. Miqueias fala que ferirão o governante atual, ou seja, Ezequias não iria conseguir defender-se do ataque, e teria que se render.
     Mas a partir do v.2, há uma mudança no tom da profecia. Os oráculos de Deus passam a ser de renovo. A promessa futura de um redentor, de um governante poderoso, Rei dos reis, estava prestes a ser anunciada para fundamentar a esperança do povo. O cerco e o exílio seriam temporários, dados pelo próprio Deus, mas que após isso viria algo muito maior e melhor.
     Cerca de 700 anos depois, a promessa se cumpria na cidade de Belém da Judeia, Belém Efrata, a pequena entre as milhares de Judá. A cidade mais improvável, pequena e inexpressiva possível para o nascimento de um rei. Dela saiu aquele que há de reinar em Israel, Jesus Cristo. Os judeus, contudo, acreditavam fortemente que seria um rei político, que restauraria a posição de Israel perante seus vizinhos territoriais e se firmaria como potência novamente. Quem não seria tentado a pensar dessa forma? Poucos foram os que, pela fé, viram o Messias que reinaria sobre o Israel espiritual. Quando Miqueias fala de um rei cujas origens são desde os tempos antigos, ele quer literalmente dizer tempos remotos, tempos imemoráveis. Um rei cujas origens estão nos dias da eternidade jamais poderia ser um governante terreno, um mero sucessor do trono hebreu. Um rei não limitado pelo tempo ou pelo espaço. Esta é uma das passagens que mais dá detalhes acerca do Messias prometido, inclusive utilizada em Mateus 2.4-6 pelos mestres de Herodes para saber onde Cristo haveria de nascer.
     O v.3 nos mostra que Israel veria seus filhos e filhas serem entregues ao cativeiro, ao exílio. Israel jamais seria o mesmo depois disso. Contudo, o profeta nos mostra que as dores advindas desse castigo seriam como dores de parto: embora muito grandes, seriam temporárias. Não são agonias de morte. Elas seriam esquecidas após a grande “alegria da criança que viria ao mundo”, a plenitude dos tempos que viria. Quando esse tempo chegasse, o povo de Deus seria reunido, tanto Israel quanto seus irmãos distantes do exílio, como também pessoas de nações vizinhas e distantes (Mq 4.2-3). Cristo, o primogênito entre muitos irmãos (Rm 8.29), nos une a Deus novamente, e congrega todo o Israel espiritual junto de si.

2. O Governante de Israel, o Rei dos reis (5.4-6)
     Entre os detalhes que Miqueias dá acerca do Messias, ele nos diz no v. 4 que ele permanecerá e cuidará do povo. O próprio Cristo nos garantiu isso, momentos antes de sua ascensão, quando disse “e eu estou convosco todos os dias, até o final dos tempos” (Mt 28.20). Ele também garantiu que cuidaria do seu povo como um bom pastor, o qual não está distante, mas preza pelas suas ovelhas (Jo 10.11). Tudo isso por causa da sua força e majestade, que são a força e majestade do SENHOR, o Senhor dos exércitos, poderoso nas batalhas (Sl 24.8).
     Ele garante que o seu povo também permanecerá. Não serão extintos. E, de fato, seu povo ainda permanece. Mais de dois mil anos depois, seu povo continua firme em Seu Nome e o Reino de Deus avança. E isso se cumpre pois Ele é grande até os confins da terra. Deus o exaltou e lhe deu nome sobre todo nome (Fp 2.9-11). A pregação tem alcançado até mesmo os lugares mais longínquos, levando o soberano Nome. Mas isso não é mérito humano. Não temos uma mensagem descolada, bonitinha, amiga de todos. Sofremos perseguições. Fomos açoitados, presos, assassinados. Contudo, o sucesso da missão está garantido pois Ele está conosco!
     Apesar de todas as dificuldades, o povo de Deus descansa, pois ele será a nossa paz (v.5). Podemos ficar tranquilos e confiar nEle. Nisso deve consistir a segurança da igreja dos planos de satanás e do reino das trevas. Ainda que a Assíria invada as nossas terras e ataque nossos palácios, isto é, ainda que o mundo nos ataque e queira nos amedrontar, nos fazer desistir da caminhada com Cristo e da proclamação da sua mensagem, estaremos firmes nEle!
     Não faltarão homens e mulheres dispostos a defenderem o povo de Deus, pois eles serão levantados pelo próprio Deus! Levantaremos pastores e príncipes, um número adequado e competente de pessoas para se opor ao inimigo e proteger a igreja. O próprio Cristo nos garantiu que as portas do inferno não prevalecerão contra a sua igreja (Mt 16.18), desde que estejamos fundamentados na pedra angular, Jesus Cristo. Toda altivez será destruída pela espada, pela Palavra de Deus. Ele nos livrará, o nosso redentor.

3. A igreja de Cristo (5.7-9)
     O seu povo será como o orvalho (v.7), um instrumento de Deus para dar vida e levar bênçãos para aqueles com quem convivem. O seu povo vem da parte do Senhor, possui origem celestial, nascem do alto, eleitos pelo próprio Deus antes da fundação do mundo (Ef 1.4). Seu povo será como o chuvisco, serão mui numerosos, e puros e cristalinos como gotas de orvalho. Eles não dependerão nem esperarão aprovação do mundo para agir em nome de Deus.
     Em contrapartida, também serão como leões (v.8), valentes e destemidos, prontos para levar a mensagem com coragem até os confins da terra. A mensagem do Evangelho é uma mensagem muito séria. Para aqueles que não creem, somos como cheiro de morte, pois o Evangelho é uma boa notícia para quem crê, mas uma mensagem de condenação para os que não creem.
     Tudo será consumado na glorificação e na exaltação de Cristo. Este é o alvo final para o qual caminha toda a história. Essa glorificação teve início na sua vinda, morte, ressurreição e ascensão, continua ainda hoje mediante a pregação do Evangelho e terá seu fim no Grande Dia, no Dia Final, onde o justo juízo de Deus será manifestado (Rm 2.5), em que os que não creram serão condenados e os que creram serão recebidos na Glória. Amém!

Que o Deus Altíssimo nos faça relembrar todos os dias da sublimidade da vinda de Cristo. Que não tenhamos a audácia de reduzir a sua mensagem a meros jargões repetidos no fim de ano de forma automática. Que tenhamos em mente que Cristo veio como cumprimento dos propósitos de Deus para a salvação de seu remanescente. Como disse Ismael Quintero, “é contraditório que o mundo celebre o seu nascimento e rejeite sua mensagem”.
     A mensagem de Natal, antes de ser uma mensagem de amor, é uma mensagem de arrependimento, um alerta do juízo de Deus sobre os que praticam a iniquidade; um chamado à fé em Cristo Jesus, o Príncipe da Paz (Is 9.6), o renovo do Senhor (Is 4.2).
    E para os que já depositam sua fé nEle, esta deve ser uma data de gratidão a Deus, pois Ele sim é fiel e cumpre sua Palavra. Devemos nos maravilhar nos planos sublimes de Deus, assim como Paulo disse “Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!” (Rm 11.33).

Soli Deo gloria, nunc et semper, amen.
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